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Vídeo de exposição sobre sexualidade com imagem de Jesus crucificado sob formigas causa polêmica


Um vídeo de 1987 mostrando formigas caminhando sobre uma estátua de Jesus Cristo na cruz levantou polêmica nesta semana em Washington, nos Estados Unidos, ao ser removido de uma exposição por pressão da Liga Católica e, em seguida, reexibido em uma galeria de arte local como forma de protesto.

O vídeo A Fire in My Belly, do artista David Wojnarowicz, fazia parte de uma exposição sobre sexualidade em cartaz no National Portrait Gallery, e os 11 segundos que mostram Jesus foram considerados ofensivos por William Donohue, presidente da Liga Católica nos Estados Unidos.

Sob pressão, o museu, que é parte do Instituto Smithsonian, retirou o vídeo da mostra horas após a reclamação, sob o argumento de que, apesar de não considerar a obra “anticristã”, acreditar que a polêmica em torno de sua exibição estava roubando as atenções do resto da exibição.

A retirada provocou protestos no mundo artístico e, em reação, a galeria de arte Transformer, também em Washington, passou a exibir o vídeo continuamente em sua vitrine, para os transeuntes.

A galeria criticou o National Portrait Gallery por ter “se curvado a pressões” e promovido “censura”.

“Não interpreto (o vídeo) como blasfêmia, mas isso nem é a questão”, disse ao Washington Post a diretora de arte da Transformer, Victoria Reis. “Trata-se do ponto de vista de um artista respeitado, e, se ele foi incluído na exposição, por que removê-lo só porque alguém não gostou? Isso (representa) cortar qualquer diálogo e comunicação.”

Obra

O vídeo de Wojnarowicz tem 30 minutos no total e foi feito em 1987, com a intenção de retratar o sofrimento de vítimas da Aids e homenagear um parceiro do artista, que morreu de complicações da doença.

O próprio Wojnarowicz morreu da mesma doença, cinco anos depois.

Uma representante do espólio do artista disse ao Washington Post que seu vídeo A Fire in My Belly foi mal interpretado, que o uso de formigas era para fazer um “paralelo” entre a sociedade dos animais e a humana, e não se tratava de uma crítica a Jesus.

Já Donohue, da Liga Católica, afirmou ao jornal que a obra trazia um “discurso de ódio”. “Sempre que esse tipo de coisa acontece, me dizem que a arte é complexa e aberta a interpretações, mas se você coloca uma suástica em uma sinagoga, isso não é aberto a interpretações”, alegou. “Quando o Smithsonian – com seu prestígio e financiamento público – ofende católicos, não posso fingir que isso não aconteceu.”

A polêmica continuou ao longo da tarde de quinta-feira, quando cerca de cem pessoas convocadas pela galeria Transformer fizeram uma passeata até a National Portrait Gallery em protesto contra a exclusão do vídeo de Wojnarowicz.

Financiamento artístico

A polêmica também abriu questionamentos sobre o Instituto Smithsonian, parcialmente financiado por verba pública.

O National Portrait Gallery defende que a exposição em debate foi organizada com dinheiro privado, mas um congressista já veio a público pedir que a verba destinada ao museu passe por escrutínio.

Outro congressista, o democrata James P. Moran Jr, que preside o subcomitê do Congresso responsável por parte do financiamento artístico, disse ao Washington Post que inicialmente viu “mau gosto” no vídeo de Wojnarowicz. Mas “considero ainda pior que ele tenha sido censurado da exibição”.
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